terça-feira, 21 de julho de 2009

Transparência, Demagogia e Heróis

O prefeito da cidade de São Paulo decidiu colocar na internet o nome e o salário dos servidores municipais. Fez um estardalhaço. Disse que estava sendo transparente — a população precisava saber quanto o Município gastava com pessoal. Os aplausos, incluído o do presidente do Supremo Tribunal Federal, não chegaram a impressionar. Sinal de que o povo começa a ver as diferenças entre a honestidade de propósitos e a demagogia.

E, vamos combinar: se o prefeito quisesse, realmente, acabar com os funcionários fantasmas e os salários ilegais, bastava cortar a remuneração de quem não estivesse comparecendo ao trabalho ou recebendo além do devido. O impacto nos meios de comunicação talvez fosse menos estrondoso, mas os resultados práticos, por certo, seriam maiores e mais consistentes — além de juridicamente sustentáveis. Mas o problema era a ribalta política — como criar um cenário eleitoralmente auspicioso? A coisa não podia ficar dentro da normalidade. Daí, no lugar do bom senso e da eficiência, veio o arroubo, o fragor da decisão (de validade jurídica duvidosa), o berreiro dos sindicatos, as bravatas... Porque essas coisas dão ibope, colocam o personagem sob holofotes, exaltam suas vaidades, acenam com perspectivas eleitorais alvissareiras, podem influir no resultado das pesquisas.

O caso, lamentavelmente, não é isolado. Essa tendência de misturar transparência com embuste e demagogia é um fenômeno visível em praticamente todas as instâncias de governo (federal, estaduais e municipais), de norte a sul do país. Decorre da patologia moral que costuma transformar em ato de heroísmo aquilo que, em verdade, não passa de simples cumprimento do dever. Sustar o pagamento de um servidor fantasma, equipar um hospital, formar um professor, construir uma rodovia..., são obrigações do administrador público. Simples obrigações. Mesmo que as cumpra com zelo e eficiência, não se faz credor privilegiado de aplauso nem merece ser endeusado pela propaganda, às custas do dinheiro do contribuinte. Afinal, apenas cumpriu o seu dever, não é herói.

3 comentários:

  1. José Alberto Klitzke22 de julho de 2009 às 21:52

    Direto, claro e brilhante o artigo do Dr.Alberton. Leitura obrigatória para os políticos (deveria ser).

    Parabéns pelo Blog !

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  2. Leitura obrigatória para todos. Se ele pratica a demagocia, significa que tem uma legião de seguidores. Do contrário, não se importaria com isso. Faço MBA em Gestão Pública e estamos cursando a disciplina de Ética. Discutimos um pouco disto: a demagogia, a verdade, a mentira, o que as pessoas desejam ouvir, a inveja, a verdadeira intenção de quem critica, etc. Precisamos, em alguns momentos, parar para refletir sobre nossos conceitos, opiniões, atitudes e desejos. Muito bom o texto!

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  3. como sempre brilhante e objetivo! roberto neumann

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